Este post trata de duas experiências que vivi semana passada. Voltava do meu trabalho temporário e ao passar pelo centro da cidade encontrei-me com uma mui estimada amiga que não via há um bom tempo. Paramos e conversávamos sobre a formatura dela, a cerimônia, o baile, os projetos e sobre o quanto isso tudo é legal.
De repente um morador de rua chega até nós, embriagado, sujo, descalço e antes que pedisse o que queria um outro rapaz lhe entregou um par de chinelos. Ele riu e disse algo do tipo: tá vendo nem preciso pedir, meu pai (Deus), providencia tudo pra mim. Bom de papo o cara, pegou meu óculos escuros e disse que tiraria onda com nossa cara arranhando um inglês, um espanhol e falando de desapego. Mesmo sendo morador de rua ele partilha qualquer coisa que tenha com quem tenha menos que ele, seja em posses ou perspectivas. Meu pai me disse que tem que ser assim, afirmava. Atravessamos a rua e ele fez questão que seus dois outros amigos que participam do projeto pão e beleza da paróquia de N Sra da Piedade, mãe dos crucificados de minha terra, confirmassem quem vira e mexe lhes pagava um almoço e eles confirmaram: é o cê mesmo.
Esse sujeito me disse muito mais do que eu consigo colocar aqui, o encontro com ele foi desconsertante, foi muito importante, ele fez questão de provocar minha sensibilidade para com as necessidades abundantes de quem vive na rua e sem modéstia se dizia como vindo de trás do trono do Pai. Só pensei que nossos grupos devem promover encontros como esse com os prediletos do Pai, nem tanto pelo bem deles, mas pelo nosso próprio, para nos humanizarmos e nos divinizarmos, para acolhermos a revelação, para nos convencermos de que precisamos de muito pouco... para percebermos bem o que de fato é necessário.
Outra experiência foi num restaurante famoso daqui, o melhor da cidade, segundo o próprio dono. Entramos lá, minha namorada e eu, antes de nós várias pessoas, famílias inteiras, comendo, bebendo, dançando, cantando, enfim curtindo uma noite muito agradável ao som ambiente de uma música ao vivo executada por um casal de cantores. As coisas lá são caras para os nossos padrões, mesmo assim resolvemos ocupar o balcão, pedi uma taça de vinho e intercalava leves goladas com beijos, sorrisos, piadas, comentários sobre as músicas, sobre os músicos, sobre os casais que dançavam, sobre a dança em si e pensava: que noite agradável, seria legal se viéssemos aqui com mais frequência.
Até que o proprietário, que já há um tempo estava por perto, se dirigiu a nós manifestando seu descontentamento com nosso namorico no balcão. Lançou-nos num abismo de constrangimento e silêncio, terminei meu vinho quase que no mesmo instante em que ele voltou para acrescentar algo. Tentei argumentar com ele... em vão, ele estava convencido do nosso abuso, ele estava certo de que aquilo não era um botequim e que nós não o avacalharíamos. Disse que poderíamos ficar por lá, mas estava claro que não como estávamos.
Não sei como estávamos aos seus olhos, sei que ficamos muito tristes, nesse momento meus dedos tocam trêmulos o teclado...
Num espaço curto de tempo encontrei dois mundos, o da miséria que mesmo assim divide, que diz: eu reconheço os meus irmãos, despojado de qualquer luxo, farto de lixo e carência e outro que cobra caro, em dinheiro, em apresentação, que não faz a menor questão de alguém diferente por lá, aqueles poucos e iguais lhe bastam. Estou entre esses dois mundos, me sinto desafiado a lidar com essas duas realidades e sinto a urgência de uma realidade alternativa, acredito que ela virá do encontro da juventude entre si e com Jesus sem deixar ninguém de fora, independente de crença, de posses, de protocolos... simples assim: ô pessoal vamo entrá aqui tem lugar pra todo mundo, não falta nada nem sobra nada pra nimguém...